Todos
os ramos das ciências que se dedicam ao estudo do carácter humano, têm, ao
longo dos séculos, efectuado abordagens ao tema que logo na sua base inicial,
limita e direcciona de forma errada todos os resultados que a partir dai se
apresentam. Isto porque nesta base se criaram conceitos e definições, às quais
nunca se questionou, se essas, não seriam no mínimo de facto questionáveis.
Já
nas ciências esotéricas existem leituras e interpretações que permitem
questionar sempre quer as próprias teses, quer as apresentadas pelas ciências
exotéricas, veja-se o exemplo do ego. A psicologia e a psiquiatria, têm o objectivo,
como forma de devolver a auto-confiança a um individuo, o fortalecimento da sua
auto-estima através de técnicas de cultura do egocentrismo, onde o culto do
“eu” até pode chegar a resolver temporariamente a sua falta de auto-estima, mas
em termos estruturais, o ser que sofre este tipo de manipulação, ficará sempre
prisioneiro dos efeitos provocados pelo desequilíbrio desta abordagem,
nomeadamente, nunca conseguirá entender que este processo deveria servir unicamente
para preservar a sua individualidade, mas que ela também precisa de ser
permeável às interacções com os outros indivíduos.
Só
assim é possível que o egoísmo cumpra de facto, de forma sadia, os seus
objectivos de preservação da individualidade, mas de uma individualidade sã e
equilibrada. Já as ciências esotéricas trabalham o ser exactamente neste
sentido, fazendo-o entender que o ego e a sua existência é indissociável do ser
humano, mas que este sendo fundamental para a sua preservação, sendo um
instrumento importante na existência enquanto ser individual, devemos mantê-lo permeável
à comunhão com os outros seres, pois a condição de ser individual que vivemos é
necessária, mas temporária. Assim, na verdade, somos seres individuais no
sentido mortal, enquanto que como seres imortais, somos de facto todos parte do
mesmo, dai a necessidade dessa tal permeabilidade.
Quase
em todos os ramos das ciências que se relacionam com a interpretação, estudo e
desenvolvimento da personalidade do ser humano, as duas, ciência exotérica e a
esotérica, têm de facto abordagens e interpretações bem diferentes. Assim a
forma como se age, em função da interpretação que aceitamos como correcta, é
bastante diferente, levando, só por isso, a distintas formas de actual por
parte dos seus aderentes.
Mas
o que distingue os seres humanos e que define a sua forma de estar e de actuar,
é na verdade mais uma questão de polarização de uma única condição, no entanto,
como em tudo neste nosso universo, neste nosso estado de consciência, devido à
limitação da percepção, esta condição única, fragmenta-se, criando a ilusão de
várias características, numa escala que nos leva de um extremo a outro, ou
seja, polarizando-se. Onde nos dois extremos da escala, se encontram; num, a inteligência e no outro, a esperteza. Estas,
cada uma delas, representa um conjunto de características e conceitos que
definem a nossa forma de ver e estar neste mundo. Enquanto seres duais, todos
temos parte das duas, no entanto, somos mais influenciados por uma.
Tudo
o que somos, a forma como decidimos, vivemos, sentimos e reagimos às
circunstancias que a vida nos coloca, são no seu conjunto, reflexo do grupo em
que nos inserimos. Existem pois, nesta perspectiva, dois grandes grupos de
seres humanos, esta divisão não sendo rígida, é de facto a única que consegue
responder e fazer entender o carácter humano em tudo o que envolver a
necessidade da sua interpretação, isto para as ciências esotéricas, embora que
os termos conceituais usados por nós, também sejam usados pelas ciências
exotéricas, no entanto com interpretações e objectivos diferentes.
A
inteligência e a esperteza, são dois termos conceituais muito usados por todos,
grande parte das vezes com interpretações bem diferentes, quanto a sua origem e
aplicação. A forma errada da sua abordagem e utilização prende-se com a
interpretação primária que lhe é dada , quer quanto à sua origem, quer quanto
aos seus objectivos, ou se pretendermos, aos seus fins. De forma simples e
genérica, os conceitos comummente aceites exotericamente, são de que inteligência
pode ser associada ao
método científico e à
lógica na
resolução de problemas, enquanto a esperteza pode ser associada ao
empirismo
também na resolução muitas vezes dos mesmos problemas, porém de forma não
convencionada. Assim se uma está e será o conjunto de competências adquiridas a
partir de factores | padrões medíveis cientificamente – a inteligência, já a
outra, é o conjunto de competências | capacidades adquiridas a partir de
contingências vividas e de “necessidades de sobrevivência” – esperteza.
Se
partirmos desta interpretação para entender a segmentação dos dois grandes
grupos em que se dividem os seres humanos quanto à forma de interpretar e agir
neste mundo, então, teremos certamente conclusões perfeitamente erróneas quanto
ao entendimento que poderemos procurar fazer, sendo isso que ocorre quase
sempre. Por isso, é tão difícil entendermos e entendermo-nos até a nós próprios,
pois a base de raciocínio pode estar toda errada.
Todos
os seres humanos, todos, se inserem ou num ou noutro destes grupos, sem excepções.
Por vezes, mal interpretamos e até de forma ridícula, atribuímos
características de um destes grupos como sendo simplesmente características
femininas ou masculinas. Outras classificamo-las como sendo de origem sociocultural.
Ao faze-lo erradamente, criamos barreiras quanto à clareza e capacidade para
entendermos o ser humano, o mundo e inclusivamente as grandes dúvidas
existenciais que frequentemente nos assolam.
A
inteligência e a esperteza, não são mais do que os dois mecanismos, através dos
quais, o espírito, na sua limitação de
condição física, fragmenta uma única condição, como forma da percebe-la. Porque
num mundo dual, o espírito não consegue vivenciar a unicidade da condição
verdadeira, socorre-se destes dois mecanismos como forma de alinhar
dualísticamente o processo de fragmentação de forma a conseguir perceber essa
condição. Ora essas percepções, chegam ao ser, filtradas pelo ego, como varias características,
quando na verdade são uma única condição. Já a forma como o ser interpreta
essas percepções, são condicionadas pela maior o menor tendência que ele terá
para estar próximo do conjunto caracterizado pelo grupo que vivencia o mundo
mais polarizado na inteligência ou na esperteza.
Assim
podemos afirmar que a inteligência é na verdade um conjunto de características
que aproximam o ser, quanto a forma de ver, viver, sentir e decidir o
mundo, da perspectiva mais ligada aos
conceitos conhecidos como de emotividade, sensibilidade, espiritualidade, ao
passo que a esperteza, representa o conjunto de características que o ser mais
pragmático, racional e físico-realista, se socorre para interpretar e decidir,
face aos desafios que lhe são colocados e à hora de decidir.
Assim
a espiritualidade estará sempre mais ligada à inteligência, enquanto que o
realismo no sentido físico do termo, estará sempre mais ligado à esperteza.
Enquanto a intuição e a maior sensibilidade perceptiva, são características da
inteligência, os cinco sentidos e a importância que o ser lhes atribuir, é mais
tendente para aquele que se encontra no grupo da esperteza. Como normalmente a
sensibilidade, por dogma, é atribuído de forma errada, à característica
feminina, então a intuição e maiores níveis de emotividade, sentimentalismo, e
percepcionismo, são características femininas, ou contrário, todos os opostos
são já características masculinas. Isto é certo nas ciências esotéricas, porque
vemos no feminino e masculino, não o conceito de sexo a ele associado, mas na
verdade a separação polar dos dois extremos de uma escala face a uma qualquer condição,
se quisermos o positivo e negativo não como sinal de maior ou menor valor, mas
como ambas cargas necessárias de, por exemplo, a energia eléctrica. Ambas são
parte de um todo, ambas são indispensáveis para o todo, só existem separadas,
porque o ser vivencia o mundo de forma polarizada, analógica e dualísticamente.
Então
na perspectiva esotérica a inteligência serve-se dos canais da percepção e
intuição para relacionar o ser individual com o mundo Imanente, ao passo que a
esperteza, socorre-se do sentidos mais físicos, como forma de interpretação do
ser com o mundo. Por sua vez, estas duas formas e abordagens, bem distintas por
sinal, marcam e caracterizam o ser, quanto ao entendimento do mundo que o
rodeia, assim quanto a forma de lidar e decidir nele.