Um
dia como tantos outros para todos. Um dia como tantos outros. Mas esse mesmo
dia que para quase todos são mais um dia, para alguns, para aqueles que por
vários motivos a vida lhes prega partidas de mau gosto, para esses, esse não é
mais um dia, para estes por vezes esse é o ultimo dia.
Cada
um de nós, analisa o acto de desespero que gera o suicídio como um acto de
profunda cobardia, outros vêm nele um acto de coragem, mas quem se depara um
dia com a possibilidade de o cometer, nunca o verá nem de uma forma, nem da
outra, pois este não pretende entender o acto em si, mas unicamente por cobro a
uma situação que para si se tornou insuportável e como tal, até esse acto é
mais viável do que a continuidade de tal situação.
Nesse
dia, um homem jovem, já numa situação terminal de desespero, preparava-se para
por cobro à sua vida, atirando-se de um miradouro numa qualquer cidade perdida
no mundo. Ao seu lado, uma criança de tenra idade, olhando para si, sorrindo,
perguntou-lhe:
-
Senhor, a paisagem vista daqui é mais bonita, você está tentando ver melhor ai
em cima?
O
jovem homem, nesse momento, estava já sentado sobre as grades de protecção do
miradouro, com as pernas penduradas para o precipício que resultava desses
mesmo ponto alto. Com a abordagem da
criança, o jovem homem recuou e por momentos vacilou na sua intenção. A
criança, sem esperar por alguma resposta, quase que adivinhando que não haveria
qualquer resposta, acrescentou:
- Eu
um dia vou ser inventor, quero inventar uma maquina de ver tudo.
O
jovem homem, distraído com o disparate que acabara de ouvir, passou as duas
pernas para o lado de cá da protecção e já mais confortável, inquiriu a
criança, quase esquecendo o propósito que o levara ali:
-
Maquina de ver tudo? Mas que disparate é esse? Para que queres tu uma maquina
de ver tudo? Tu não vês tudo?
A
criança sorrindo e com um olhar profundamente meigo, fixou o jovem e disse-lhe
quase que não percebendo a sua estranheza:
- Eu
vejo sim, vejo tudo e muito bem. A maquina que quero construir não é para mim,
quero dar ela para os adultos, para que eles vejam o que nós crianças vemos.
E
retirando o olhar do jovem homem, fixou-o de novo no horizonte e repetiu:
-
Não é lindo tudo visto daqui? Muito melhor do que dali de cima, não?!
Ouvindo
isto, o homem jovem olhou para o horizonte, já de pé do lado de traz da grade
de protecção e nisto, quando ia responder à criança, esta já tinha
desaparecido, sem deixar rasto.
Neste
instante o jovem percebeu que os seus problemas não precisavam de alguém que
desistisse deles, mas sim de uma maquina de ver tudo, mas na perspectiva de
olhar de criança. A mesma perspectiva
que permite o sorriso pleno e sincero a todo o momento, na face das crianças,
pois elas vêm o mundo da forma como ele deve ser visto, em pleno e não parte
dele.
Ele
entendeu que quando uma criança sorri, fá-lo porque quando olha vê tudo. Não
como um adulto que só vê parte, neste caso, o seu problema em concreto e pela
sua limitação na forma de ver, deixa também de ver a solução para o mesmo.
Então
ele entendeu que o que precisava era de uma maquina de ver tudo.
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