quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Resenha do livro - A Origem dos Mistérios.



A humanidade está constantemente sendo arrastada pelas marés dos movimentos culturais, dos dogmas religiosos, dos modismos e toda sorte de correntes, que têm o poder de conduzir a mentalidade dos povos. Contudo, desde sempre, existem buscadores, seres que enxergam além do que está posto e visível para a maioria. Essas pessoas, sendo inquietas e questionadoras, trazem sempre, em seu íntimo, algo que as impulsiona em busca da Verdade, da compreensão do quebra-cabeça que tende a confundir o estudante no sentido dos diferentes caminhos, que, se por vezes se relacionam, por tantas outras deixam lacunas e contrapõem-se.

Na presente obra, Antero Carvalho aborda essa questão de forma bastante peculiar. À medida que consegue trazer suas próprias buscas e reflexões como foco da obra, consegue ser profundo e amplo, trazendo a si próprio para perto do leitor, fazendo com que suas descobertas tornem-se objeto de análise.

Demonstra humildade, e retrata a vida de um homem que, movido pelos muitos códigos, veio seguindo pelos caminhos “padrões” da sociedade, mas que, em todo tempo, é atraído e instigado a buscas mais além, sendo com isso levado a um caminho de autotransformação. Aborda a atual crise econômica e social da Europa, como fator que impulsionou seu desenvolvimento, e, por serem esses temas humanos e contemporâneos, estes se adequam às necessidades de mudanças de qualquer pessoa e da sociedade em geral.

Com propriedade e habilidade, discorre acerca de temas como política e economia, história, religião, ciência, esoterismo e hermetismo. Assuntos místicos e esotéricos, como o Quinto Império, os Templários, Fátima e a Arca da Aliança são elementos que, sem dúvida, excitam um leitor interessado em desvendar os mistérios que permeiam esses temas.

Com efeito, os contos e aforismos abrilhantaram ainda mais com poesia e beleza a construção do livro, são recursos que auxiliaram na revelação de verdades que conduzem o raciocínio do leitor a ampliar suas perceções, e o fazem de forma suave, sutil.

Apesar de afirmar que a Verdade pode violentar aqueles que não estão preparados para conhecê-la, em nenhum momento faz isso, e formula as ideias de forma que um leitor iniciante nessas reflexões tenha algum vislumbre da Verdade, podendo despertar para o anseio de aprofundar e ampliar suas buscas, ao ponto que um leitor mais preparado, um buscador, possa compreender a mensagem, desperte, e se interesse por desvendar a chave que levou o autor a conciliar os paradoxos que lhe haviam sido instaurados em sua busca.

É uma obra instigante em todo seu conjunto; acompanhar a busca do autor é mergulhar nas próprias buscas, dúvidas e reflexões, que quase sempre denotam, em quem as possui, adiantado estado de consciência e lucidez, diante dos mistérios, mentiras e verdades que permeiam nosso existir.


Resenha de Priscila Dias, revista por Arthur Buchsbaum.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

INICIAÇÃO


“Há três tipos de iniciação: exotérica, esotérica e divina.”

Bandarra
Aquilo a que se chama «iniciação» é de três espécies: Há, primeiro, e no nível ínfimo, a iniciação exotérica, análoga à iniciação maçónica, e de que esta é o tipo mais baixo: é a iniciação dada a quem propriamente se não encaminhou para ela, nem para ela se preparou (porque sugestão de outrem, o impulso externo, e a simples curiosidade não são preparações), e que serve para pôr o indivíduo em condições de poder dar se o caminho esotérico, de poder buscar, pelo contacto, embora esotérico, com símbolos e emblemas, o verdadeiro caminho. O mais exterior e nulo dos sistemas iniciáticos — como o é hoje a maçonaria — serve este fim, logo que tenha conservado os símbolos pelos quais em nós se infiltra o primeiro conhecimento do oculto. O único fim com que os Rosa-Cruz instituíram a maçonaria exotérica é o de pôr muita gente em contacto com, por assim dizer, o aspecto externo da verdade oculta, podendo assim aqueles, que se sintam aptos, ascender a ela lentamente.
Há, depois, a iniciação esotérica. Difere da primeira em que tem que ser buscada pelo discípulo, e por ele desejada e preparada em si mesmo. «Quando o discípulo está pronto», diz o velho lema dos ocultistas, «o mestre está pronto também.»
Há, por fim, a iniciação divina. Esta, não a dão nem exotéricos ou esotéricos menores, como a exotérica, nem até Mestres ou Esotéricos Maiores, como a esotérica; vem directamente, e por cima destes todos, das mesmas mãos, do que chamamos Deus. O tipo supremo desta iniciação é o de Jesus, a quem Deus, de nascença, converteu em sua mesma Essência, tornando-o Cristo.
Iniciado exotérico é, por exemplo, qualquer mação, ou qualquer discípulo menor de uma sociedade teosófica ou antroposófica. Iniciado esotérico é ,por exemplo, um Rosa-Cruz, um Francis Bacon, seja. Iniciado Divino é, por exemplo, um Shakespeare. A este tipo de iniciação vulgarmente se chama génio.
Quando Shakespeare disse, «uns nascem grandes, outros chegam à grandeza, a outros é a grandeza imposta» deu, talvez sem querer e julgando ser simplesmente irónico, a chave das três iniciações, na ordem descendente. Outro sentido não tem a mesma frase do Cristo que diz o mesmo pela «a uns fazem eunucos desde o ventre materno», em que, por uma expressão simbólica que a intuição facilmente compreende, se exprime pelo eunuquismo o afastamento dos outros que caracteriza a iniciação.
s.d.
A Procura da Verdade Oculta - Textos filosóficos e esotéricos . Fernando Pessoa. (Prefácio, organização e notas de António Quadros.) Mem Martins: Publ. Europa-América, 1989 (2ª ed.). 
 - 168.

A Ordem de Cristo.


“A Ordem de Cristo tem como regra: Liberdade, Igualdade, Fraternidade.

Subsolo.
A Ordem de Cristo não tem graus, templo, rito, insígnia ou passe. Não precisa reunir, e os seus cavaleiros, para assim lhes chamar, conhecem-se sem saber uns dos outros, falam-se sem o que propriamente se chama linguagem. Quando se é escudeiro dela não se está ainda nela; quando se é mestre dela já se lhe não pertence. Nestas palavras obscuras se conta quanto basta para quem, que o queira ou saiba, entenda o que é a Ordem de Cristo — a mais sublime de todas do mundo.
Não se entra para a Ordem de Cristo por nenhuma iniciação, ou, pelo menos, por nenhuma iniciação que possa ser descrita em palavras. Nãos se entra para ela por querer ou por ser chamado; nisto ela se conforma com a fórmula dos mestres: «Quando o discípulo está pronto, o Mestre está pronto também.» E é na palavra «pronto» que está o sentido vário, conforme as ordens e as regras.
Fiel à sua obediência — se assim se pode chamar onde não há obedecer — à Fraternidade de quem é filha e mãe, há nela a perfeita regra de Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Os seus cavaleiros—chamemos-lhes sempre assim — não dependem de ninguém, não obedecem a ninguém, não precisam de ninguém, nem da Fraternidade de que dependem, a quem obedecem e de que precisam. Os seus cavaleiros são entre si perfeitamente iguais naquilo que os torna cavaleiros; acabou entre eles toda a diferença que há em todas as coisas do mundo. Os seus cavaleiros são ligados uns aos outros pelo simples laço de serem tais, e assim são irmãos, não sócios nem associados. São irmãos, digamos assim, porque nasceram tais. Na ordem de Cristo não há juramento nem obrigação.
Ela, sendo assim tão semelhante à Fraternidade em que respira, porque, segundo a Regra, «o que está em baixo é como o que está em cima», não é contudo aquela Fraternidade: é ainda uma ordem, embora uma Ordem Fraterna, ao passo que a Fraternidade não é uma ordem.
s.d.
Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética - Fragmentos do espólio . Fernando Pessoa. (Introdução e organização de Yvette K. Centeno.) Lisboa: Presença, 1985. 
 - 47.
“Subsolo”

O ensaio sobre a Iniciação. – de Fernando Pessoa


«...uma vez Neófito, cabe-lhe escolher o caminho místico, o mágico ou o gnóstico».

Havia três razões pelas quais nas religiões pagãs certas verdades, ou coisas supostas serem verdades, eram transmitidas só em segredo e reclusão, por iniciação. A primeira era uma razão social: pensava-se que essas tais verdades eram impróprias para transmissão a qualquer homem, a nau ser que ele estivesse em certa medida preparado para as receber, e que elas teriam resultados sociais desastrosos se fossem tornadas públicas, pois isso significaria que seriam mal compreendidas. «Etiamsi revelare destruere est...» A segunda era uma razão filosófica: supunha-se que, em si próprias, essas verdades não eram de um género que o homem comum pudesse compreender e que lhe poderia advir confusão mental e desequilíbrio na conduta se lhe fossem inutilmente comunicadas. A terceira era, por assim dizer, uma razão espiritual: pensava-se que, por serem verdades da vida interior, essas verdades não deviam ser comunicadas, mas sugeridas, e que a sugestão devia ser impressiva, rodeada de secretismo, para que pudesse ser sentida como de valor; de ritual, para que pudesse impressionar e surpreender; de símbolos, para que o candidato fosse forçado a abrir o seu próprio caminho, lutando por interpretar os símbolos, em vez de se julgar cheio de conhecimento se a comunicação tivesse sido feita por ensinamento dogmático ou filosófico.
Não digo que estas três razões se apresentassem claras ou em separado ou em conjunto, embora assim divididas, nos espíritos dos antigos, sacerdotes ou leigos das suas religiões. Mas digo que, quando não por inteligência directa, ao menos por intuição, eles basearam as suas religiões neste esquema divisional.
As religiões dos Antigos, e sobretudo as religiões pagãs da Grécia e Roma, que são as que mais nos interessam, uma vez que os nossos espíritos são seus filhos, estavam divididas em três formas. Havia uma forma social, o culto, que era o do homem como cidadão. Havia uma forma individual, a poesia, que era do homem como não-cidadão; cumprido o culto devidamente, ele podia interpretar para si os deuses como entendesse e elaborar as suas lendas como lhe parecesse mais adequado. E havia uma forma secreta, a iniciação, que participava em segredo das características de ambas: era individual porque, mesmo quando a iniciação era colectiva como nos grandes Mistérios pagãos, era sempre o indivíduo o iniciado e não o grupo; era social, porque a iniciação era comunicada em ritual e o ritual é social.
O que com os Cristãos raramente está associado ou fundido com a poesia como acontecia com os pagãos. (Não compreenderemos a Idade Média até que compreendamos que a teologia era a sua poesia, que a ausência de poesia então mais não era que a presença da poesia sob outra forma).
Todas as religiões, porém, estão no mesmo estado que as grandes religiões pagãs. As três formas de religião serão encontradas de uma forma ou de outra em todas. Nas religiões cristas, por exemplo, temos o culto público, quer seja altamente cerimonial como na Igreja Romana, quer pobre até à nudez como nas seitas protestantes extremistas; temos a religião individual significando a reflexão pessoal sobre os dogmas e fórmulas de fé, e isto é teologia onde (com os pagãos), era antes poesia; e temos a vida interior do cristão, que é a sua iniciação, porque nas religiões cristãs a iniciação é considerada como dada por Cristo, só, misticamente, e não por qualquer sacerdote ou hierofante ritualmente ou ceremonialmente. Por outras palavras — cujo sentido mais exacto será compreendido mais tarde — a iniciação pagã encaminhou-se para a Magia, como fazem todas as iniciações rituais, e a iniciação cristã encaminhou-se para o Misticismo, como fazem todas as iniciações meditativas.
Qualquer que seja o número de graus, exteriores ou interiores, na escala de ascensão para a verdade, eles podem ser considerados como três — Neófito, Adepto e Mestre. Na realidade, os graus são dez — quatro para o Neófito, três para o Adepto e três, por assim dizer, para o Mestre. Há realmente também dois intergraus que ficam entre o primeiro e o segundo, e entre o segundo e o terceiro há ordens, estas também não numeradas. Os graus não numerados são graus de noviciado, enquanto os outros são, cada um na sua medida, graus de realização.
O Neófito, ao longo dos graus que esta expressão descreve, é essencialmente um aprendiz; o seu caminho é em direcção à realização do conhecimento na esfera exterior. No Adepto, ao longo dos seus três passos, há um progresso na unificação do conhecimento com a vida. No Mestre há, ou diz-se que há, uma distribuição da unidade assim atingida em virtude de uma unidade mais elevada.
Uma comparação com coisas mais simples tornará isto mais claro, creio. Suponhamos que o escrever grande poesia é o fim da iniciação. O grau de Neófito será a aquisição dos elementos culturais com que o poeta terá de tratar ao escrever poesia e que são, grau a grau e no que se afigura ser uma analogia exacta: 0) gramática, 1) cultura geral, 2) cultura literária particular, 3) [incompleto no original, e a numeração salta] O grau de Adepto será, extraindo a analogia da mesma maneira 5) o escrever poesia lírica simples como num poema lírico comum, 6) o escrever poesia lírica complexa como em, 7) o escrever poesia lírica ordenada ou filosófica como na ode.
O grau de Mestre será, da mesma maneira: 8) o escrever poesia épica, 9) o escrever poesia dramática, 10) a fusão de toda a poesia, lírica, épica e dramática em algo para lá de todas elas.
Ao leitor desta analogia literária ocorrerão três observações. A primeira é que se pode ser poeta sem os graus de Neófito, Adepto do primeiro grau de Adepto sem sequer se «tomar» o primeiro grau de neófito. A segunda é que a progressão descrita não corresponde à que habitualmente acontece na vida, seja ela a de um poeta ou a de qualquer outro homem. A terceira é que a função de toda a poesia, lírica, épica e dramática, em algo que fica para além das três, é uma realização que excede a compreensão.
Levei o leitor a fazer estas observações para que eu pudesse, replicando-lhes, completar a analogia com uma explicação.
Quanto à primeira observação: O primeiro grau de Adepto é, na verdade, o primeiro grau real da iniciação real. Um místico simples, que funde a sua fé e a sua vida, atingiu o começo da iniciação real, enquanto o neófito aperfeiçoado, no qual a fé (ou conhecimento) e a vida ainda estão separados, não a atingiu. Mas se o Adepto espontâneo tiver atingido o Quinto Grau sem ter passado pelos cinco primeiros (que incluem o grau Zero), terá de permanecer largo tempo à entrada da Câmara do Meio, onde se pode adequadamente dizer estar «colocado» o primeiro grau de Adepto. Para passar ao Sexto Grau ele terá, em certo sentido, de voltar ao princípio.
s.d.
Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética - Fragmentos do espólio. Fernando Pessoa. (Introdução e organização de Yvette K. Centeno.) Lisboa: Presença, 1985.
“Ensaio sobre a Iniciação.” Trad.: Maria Helena Rodrigues de Carvalho

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Mestre e eu.




Tudo terminava como tinha começado. Motivado pelo “querer saber”, acabei por entender que aquilo que todos procuramos e pensamos estar algures pelos confins do mundo, afinal, sempre esteve bem perto de nós, tão perto que mais, seria impossível…

O caminho tinha sido longo, as cicatrizes que transportava eram profundas, bem marcadas, mas estavam totalmente curadas. Ninguém faz uma viagem destas sem se magoar, sem ter que recuperar. Os erros fazem parte da jornada, são eles que nos direcionam no caminho certo e para isso temos que arriscar. Sem arriscar não há erros, mas sem arriscar não há caminho, não há nada, apenas o medo, a dúvida e o apego à nossa zona de conforto, ao conhecido.
Tinha partido para esta viagem, frágil, acompanhado apenas pelos fantasmas de toda uma vida - o medo, a dúvida e o apego ao meu mundo. Nada mais levava comigo. Movido apenas por uma breve e ténue VOZ que por vezes me chamava para a necessidade de lutar contra estes fantasmas.
Mas que voz era esta e porque me incomodava constantemente?! Porque lhe dava importância?! Porque não seguia a minha vida, como todos os outros?!
Vivia uma vida normal, como qualquer outro. Não poderia afirmar que era diferente de tantos outros. Mas não é isso a felicidade alcançável? Que mais podemos querer da vida? Podemos pedir mais?
Essa voz, quando a conseguia ouvir, dizia-me que sim. Era possível ter muito mais, era possível atingir a plenitude, ter tudo, ser absoluta e permanentemente feliz. Se isso fosse possível então eu queria atingi-lo. Mas algo me dizia que isso poderia ser algo irrealizável ou pior ainda, mesmo podendo ser alcançável, para tal, seriam pedidos grandes sacrifícios.
Estaria eu preparado para esses sacrifícios, estaria eu disponível para correr o risco de me lançar em algo que pode nem ser realizável?! Tantos medos, tantas dúvidas e apenas uma certeza – o adego ao conforto da realidade que me era familiar.
Tinha que ser diferente dos outros?! Se quase todos se mantinham no conforto aparente do seu mundo conhecido. Era assim que vivia a maioria da Humanidade, embora houvesse uma pequeníssima minoria que tivesse tido a coragem de correr o risco, os resultados alcançados por essa pequena minoria, não eram minimamente compensadores. Bastava olhar para aqueles que tinham feito essa opção.
Na sua maioria vivem uma vida de alienados, na verdade, é como se não vivessem. Certamente que o objetivo da existência, passa por vivermos e não por nos isolarmos de tudo e de todos. Mesmo que isso seja feito na tentativa de nos libertarmos dos tais fantasmas que todos transportamos, como que uma herança que recebemos com o nascimento e que se vai fortalecendo com o decurso da nossa vida.
 Mesmo não sabendo se aquela voz que me instigava era confiável, mesmo sabendo do insucesso dos que se atreveram a correr o risco, mesmo assim, não podia condenar-me à certeza representada no aparente conforto com que até ali a minha vida tinha sido vivida. Tinha que tentar…
Iniciei o meu caminho da busca, convicto que sabia o que procurar, apenas precisava descobrir onde procurar.
Não foi diferente, este meu início, este meu erro primordial, de tantos outros que se atrevem a tentar fazer esse caminho. Todos partem para essa busca, convencidos que sabem o que procurar. Na realidade, não é errada essa ideia, pois à luz da consciência que temos na época, somos movidos pelo que acreditamos ser verdade. Mesmo que mais tarde se compreenda que aquilo que pensamos ser verdade, era afinal uma imagem destorcida e condicionada, pela forma limitada como víamos o mundo nessa época, mesmo assim, é essa realidade que nos motiva à procura que termina por nos permitir ter uma consciência mais clara, levando-nos a perceber o equivoco, mas também levando-nos para outro nível de perceção do mundo e de nós.
Isto é semelhante à imagem que a alquimia espiritual plasma no significado da pedra filosofal. Todo o aprendiz alquímico, aventura-se no estudo da alquimia com um objetivo inicial que nunca é aquele que termina por resultar no que é expresso quando o aprendiz alcança todas as etapas da alquimia. Na verdade, o aprendiz procura a alquimia, com o objetivo de conseguir produzir aquilo que é, no seu lerdo entender, a pedra filosofal.   
Na sua maioria, os que se iniciam nesta procura, poucos são os que persistem e chegam ao fim, pois em pouco tempo, quase todos, percebem que afinal o que eles procuravam não é de alcance fácil, precisando de dedicação sincera e entrega eterna. Mas mesmo aqueles que têm condições para se manter no processo de aprendizagem, necessitam de muito tempo para perceber que para além do empenho, entrega e dedicação sincera, o alcance da tal desejada pedra filosofal, reserva-lhe algo inimaginável. Na realidade aquilo que a alquimia faz de mais relevante, não é dar a fonte da vida eterna ou a capacidade de transformar vil em nobre metal, no sentido literal do termo, mas sim no sentido mais elevado do termo.
Para todo o que consegue persistir na busca alquímica, aquele que era o objetivo inicial, transforma-se e transforma o aprendiz alquímico de tal maneira que ele percebe que o verdadeiro valor está naquilo em que ele se transformou e não no que ele aprendeu a transformar. Assim, mesmo sabendo como fazer, deixa de ter valor para o alquimista, o metal precioso e a capacidade de prolongar a vida física, pois ele sabe que existe a eternidade, sabem como chegar a ela e que nela, existem padrões de valores que transcendem, aqueles que ele aprendeu como transformar.