Um dia uma criança, sentada ao meu lado, acompanhada de sua mãe,
numa estação de comboio, olhou-me nos olhos e de repente me perguntou:
- Você é um anjo?
Olhei para a menina que teria aproximadamente uns 4 anos, e
fixei o olhar de espanto de sua mãe, como que a pedir desculpas pelo abuso de
sua filha ao me abordar dessa forma. Eu serenamente, voltei a fixar meu olhar
na menina, depois de fazer sinal à mãe no sentido de despreocupa-la pelo
acontecido – sorrindo. Ao fixar o olhar novamente na menina, ela voltou a repetir
a pergunta:
- Você é um anjo?
Sorrindo para ela, perguntei:
- Porque você pensar que eu
sou um anjo?
- Porque minha mar me disse que os anjos são bonitos,
bondosos e fortes. Você é um anjo?
- Você gostaria eu o fosse? Perguntei sorrindo.
- Sim. Queria que você fosse meu anjo. Você é meu anjo da
guarda?
Olhei de novo para mãe da menina, os dois, aqui já sem
sorrirmos, quase sérios e respondi:
- Sim sou seu anjo da guarda.
À minha resposta suou, na sala de espera onde estávamos, a
voz-off para a chamada de um dos comboios, ai percebi que seria o comboio
delas, pois a mãe rapidamente se preparou e se levantou. Sorrindo para mim a
mãe, disse-me:
- Obrigada.
Num simples gesto e olhar respondi ao agradecimento dela que
não haveria qualquer agradecimento a ter. Nisto começaram a caminhar para as
escadas rolantes que levavam à plataforma onde se encontrava o comboio que as
levaria os seu destino. A menina olhando para trás sorriu e num gesto de “até
breve” enviou um beijo, com um toque que levou a mão à sua boca, lançando-o na
minha direcção. Respondi com um sorriso e um gesto semelhante. Num ultimo
gesto, a mãe olhando para trás também, voltou a sorrir e ai entendi que ela
também acreditou que eu seria o seu anjo da guarda, estas rapidamente
desapareceram em consequência do movimento ascendente das escadas.
Percebi nesse instante que as perguntas feitas pela criança,
eram comungadas pela criança que existia dentro da mãe, estas, eram de facto e
na verdade perguntas feitas pela mãe. Desde sempre, desde criança, esta, agora
adulta, procurava reconhecer numa figura, o seu anjo da guarda, tanto era assim
que transmitiu a imagem que tinha desse ser à sua própria filha.
Assim nesse dia cumpriram-se três sonhos.
O delas…
…e o meu que embora não fosse um anjo, nesse dia, me tornei
num, ao perceber que por vezes, mentindo, conseguimos fazer coisas maravilhosas.
Deste esse dia entendi que a mentira, em si, não é boa nem é
má, somente se torna numa delas, dependendo do uso que se lhe faz.
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