quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A verdadeira dualidade humana.


Todos os ramos das ciências que se dedicam ao estudo do carácter humano, têm, ao longo dos séculos, efectuado abordagens ao tema que logo na sua base inicial, limita e direcciona de forma errada todos os resultados que a partir dai se apresentam. Isto porque nesta base se criaram conceitos e definições, às quais nunca se questionou, se essas, não seriam no mínimo de facto questionáveis.
Já nas ciências esotéricas existem leituras e interpretações que permitem questionar sempre quer as próprias teses, quer as apresentadas pelas ciências exotéricas, veja-se o exemplo do ego. A psicologia e a psiquiatria, têm o objectivo, como forma de devolver a auto-confiança a um individuo, o fortalecimento da sua auto-estima através de técnicas de cultura do egocentrismo, onde o culto do “eu” até pode chegar a resolver temporariamente a sua falta de auto-estima, mas em termos estruturais, o ser que sofre este tipo de manipulação, ficará sempre prisioneiro dos efeitos provocados pelo desequilíbrio desta abordagem, nomeadamente, nunca conseguirá entender que este processo deveria servir unicamente para preservar a sua individualidade, mas que ela também precisa de ser permeável às interacções com os outros indivíduos.
Só assim é possível que o egoísmo cumpra de facto, de forma sadia, os seus objectivos de preservação da individualidade, mas de uma individualidade sã e equilibrada. Já as ciências esotéricas trabalham o ser exactamente neste sentido, fazendo-o entender que o ego e a sua existência é indissociável do ser humano, mas que este sendo fundamental para a sua preservação, sendo um instrumento importante na existência enquanto ser individual, devemos mantê-lo permeável à comunhão com os outros seres, pois a condição de ser individual que vivemos é necessária, mas temporária. Assim, na verdade, somos seres individuais no sentido mortal, enquanto que como seres imortais, somos de facto todos parte do mesmo, dai a necessidade dessa tal permeabilidade.
Quase em todos os ramos das ciências que se relacionam com a interpretação, estudo e desenvolvimento da personalidade do ser humano, as duas, ciência exotérica e a esotérica, têm de facto abordagens e interpretações bem diferentes. Assim a forma como se age, em função da interpretação que aceitamos como correcta, é bastante diferente, levando, só por isso, a distintas formas de actual por parte dos seus aderentes.
Mas o que distingue os seres humanos e que define a sua forma de estar e de actuar, é na verdade mais uma questão de polarização de uma única condição, no entanto, como em tudo neste nosso universo, neste nosso estado de consciência, devido à limitação da percepção, esta condição única, fragmenta-se, criando a ilusão de várias características, numa escala que nos leva de um extremo a outro, ou seja, polarizando-se. Onde nos dois extremos da escala, se encontram; num,  a inteligência e no outro, a esperteza. Estas, cada uma delas, representa um conjunto de características e conceitos que definem a nossa forma de ver e estar neste mundo. Enquanto seres duais, todos temos parte das duas, no entanto, somos mais influenciados por uma.


Tudo o que somos, a forma como decidimos, vivemos, sentimos e reagimos às circunstancias que a vida nos coloca, são no seu conjunto, reflexo do grupo em que nos inserimos. Existem pois, nesta perspectiva, dois grandes grupos de seres humanos, esta divisão não sendo rígida, é de facto a única que consegue responder e fazer entender o carácter humano em tudo o que envolver a necessidade da sua interpretação, isto para as ciências esotéricas, embora que os termos conceituais usados por nós, também sejam usados pelas ciências exotéricas, no entanto com interpretações e objectivos diferentes.
A inteligência e a esperteza, são dois termos conceituais muito usados por todos, grande parte das vezes com interpretações bem diferentes, quanto a sua origem e aplicação. A forma errada da sua abordagem e utilização prende-se com a interpretação primária que lhe é dada , quer quanto à sua origem, quer quanto aos seus objectivos, ou se pretendermos, aos seus fins. De forma simples e genérica, os conceitos comummente aceites exotericamente, são de que inteligência pode ser associada ao método científico e à lógica na resolução de problemas, enquanto a esperteza pode ser associada ao empirismo também na resolução muitas vezes dos mesmos problemas, porém de forma não convencionada. Assim se uma está e será o conjunto de competências adquiridas a partir de factores | padrões medíveis cientificamente – a inteligência, já a outra, é o conjunto de competências | capacidades adquiridas a partir de contingências vividas e de “necessidades de sobrevivência” – esperteza.   
Se partirmos desta interpretação para entender a segmentação dos dois grandes grupos em que se dividem os seres humanos quanto à forma de interpretar e agir neste mundo, então, teremos certamente conclusões perfeitamente erróneas quanto ao entendimento que poderemos procurar fazer, sendo isso que ocorre quase sempre. Por isso, é tão difícil entendermos e entendermo-nos até a nós próprios, pois a base de raciocínio pode estar toda errada.
Todos os seres humanos, todos, se inserem ou num ou noutro destes grupos, sem excepções. Por vezes, mal interpretamos e até de forma ridícula, atribuímos características de um destes grupos como sendo simplesmente características femininas ou masculinas. Outras classificamo-las como sendo de origem sociocultural. Ao faze-lo erradamente, criamos barreiras quanto à clareza e capacidade para entendermos o ser humano, o mundo e inclusivamente as grandes dúvidas existenciais que frequentemente nos assolam.
A inteligência e a esperteza, não são mais do que os dois mecanismos, através dos quais,  o espírito, na sua limitação de condição física, fragmenta uma única condição, como forma da percebe-la. Porque num mundo dual, o espírito não consegue vivenciar a unicidade da condição verdadeira, socorre-se destes dois mecanismos como forma de alinhar dualísticamente o processo de fragmentação de forma a conseguir perceber essa condição. Ora essas percepções, chegam ao ser, filtradas pelo ego, como varias características, quando na verdade são uma única condição. Já a forma como o ser interpreta essas percepções, são condicionadas pela maior o menor tendência que ele terá para estar próximo do conjunto caracterizado pelo grupo que vivencia o mundo mais polarizado na inteligência ou na esperteza.
Assim podemos afirmar que a inteligência é na verdade um conjunto de características que aproximam o ser, quanto a forma de ver, viver, sentir e decidir o mundo,  da perspectiva mais ligada aos conceitos conhecidos como de emotividade, sensibilidade, espiritualidade, ao passo que a esperteza, representa o conjunto de características que o ser mais pragmático, racional e físico-realista, se socorre para interpretar e decidir, face aos desafios que lhe são colocados e à hora de decidir.
Assim a espiritualidade estará sempre mais ligada à inteligência, enquanto que o realismo no sentido físico do termo, estará sempre mais ligado à esperteza. Enquanto a intuição e a maior sensibilidade perceptiva, são características da inteligência, os cinco sentidos e a importância que o ser lhes atribuir, é mais tendente para aquele que se encontra no grupo da esperteza. Como normalmente a sensibilidade, por dogma, é atribuído de forma errada, à característica feminina, então a intuição e maiores níveis de emotividade, sentimentalismo, e percepcionismo, são características femininas, ou contrário, todos os opostos são já características masculinas. Isto é certo nas ciências esotéricas, porque vemos no feminino e masculino, não o conceito de sexo a ele associado, mas na verdade a separação polar dos dois extremos de uma escala face a uma qualquer condição, se quisermos o positivo e negativo não como sinal de maior ou menor valor, mas como ambas cargas necessárias de, por exemplo, a energia eléctrica. Ambas são parte de um todo, ambas são indispensáveis para o todo, só existem separadas, porque o ser vivencia o mundo de forma polarizada, analógica e dualísticamente.
Então na perspectiva esotérica a inteligência serve-se dos canais da percepção e intuição para relacionar o ser individual com o mundo Imanente, ao passo que a esperteza, socorre-se do sentidos mais físicos, como forma de interpretação do ser com o mundo. Por sua vez, estas duas formas e abordagens, bem distintas por sinal, marcam e caracterizam o ser, quanto ao entendimento do mundo que o rodeia, assim quanto a forma de lidar e decidir nele.  

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