Estas semanas, tenho observado a
forma como a humanidade enfrenta o momento de partida deste mundo, no que
poderemos considerar as “salas de espera para o embarque” que representa a
morte. Estas salas de espera, são mais notórias em casas que designamos de
lares para a terceira idade, ou casas de repouso, mas também é possível ver
estas “salas de espera e embarque” nos jardins públicos, nos lares de
familiares, e em outros variadíssimos locais, onde idosos, esperam como que
resignados, pela sua última viagem.
Questiono qual o motivo desta
resignação e em breves segundos, respondo-me a mim mesmo, pois como em tantas
outras coisas, esta humanidade, preferiu, prefere e continuará a preferir viver
dentro dos padrões, sem arriscar a pensar, a questionar, a ir mais além. Se os
outros se comportam assim, é porque não há outra forma de nos comportarmos,
senão já outros o teriam feito, assim que mantemo-nos dentro do rebanho e não
questionamos mais do que é o habitual nele.
O mesmo fenómeno ocorre para a
resignação sobre a última viagem. Engraçado é o fato de humanidade querer a
todo o custo que as aprendizagens sobre a morte se mantenham ocultas, sendo o
maior dos tabus da humanidade, quando todos, absolutamente todos um dia a terão
que enfrentar E nesse dia, todos, absolutamente todos tomarão o mesmo modo de
enfrenta-la – resignando-se, tal qual um cordeiro que vai para o altar do
sacrifício e nada questiona, pois esse é o seu destino, signifique ele, o que
significar…
Esta espécie de prostração espiritual
é mais que simples resignação, ela é interiorizada no ser humano ao longo da
sua existência e através das inúmeras vezes que no decurso da sua vida, ele
presencia essa atitude de prostração por parte dos que partem ou esperam pela
partida. Assim cada ser humano é programado para se resignar perante o momento
derradeiro.
Não importa se você é crente ou
não crente, não importa mesmo qual seu credo. Em todos os seres, crentes e não
crentes, apenas se torna importante, para cada uma de nós, aquilo que nos
levará a melhor viver, este dia a dia. O momento derradeiro, onde se espera a
partida, agora não importa, depois enfrentaremos, sim enfrentaremos, como todos
os outros – resignados, cheios de medo e tão ignorantes como os que chegam
aqui.
E neste dia a dia, neste frenesim
a que a vida nos relega, acabamos por viver a vida unicamente, como ela não
deveria ser vivida. Preocupados em exclusivo com as coisas ridículas e
mesquinhas, olvidando a necessidade de aprendermos que a importância deve ser
dada a tudo o que deve merecer a pena, e importante é tão-somente, tudo o que
vive dentro de nós.
Mas não, lá vamos vivendo nós,
presos a esses engodos que a vida nos coloca, onde se olha para tudo o que está
à nossa volta e pouco ou nada para aquilo que parte de dentro de nós. Pouco
importa o que sentimos, o que desejamos realmente, desde que o que aparentamos
nos leve a ser o que nunca somos nem seremos, mas que é o mais aceite pelo
grupo.
Olho para estes idosos, os
próximos passageiros desta viagem que chamamos morte e pergunto-me:
- Como é possível desperdiçar
toda uma vida, sem sequer questionar, sem perceber que a vida tem que fazer
sentido e que nesse sentido que é a razão da existência, a morte tem que ter
correspondência com esse mesmo sentido?
Olho para eles e depois de
perceber o motivo desse desperdiçar de vida, pergunto-me:
- Será a ignorância a que nos
relegamos, o único responsável por tais resultados? Haverá que pensar que a
acídia de cada um de nós, também cabe nessa resposta?
Certamente que ambos.
Mas quem é responsável por nos
manter em tal cativeiro de ignorância e acídia?
A quem importa manter em tal
estado esta humanidade?
“AC”