Naquele
maravilhoso reino o PAI mandou chamar seus dois filhos e lhes disse:
- Queridos filhos sabem que vos amo muito e de igual forma
a ambos. Como sabem no meu reino, onde um dia um de vocês governará, tudo sei,
tudo estou e tudo posso. Vocês sendo meus herdeiros e simultaneamente gémeos,
sabem que apenas um pode governar. Têm vivido toda a vossa vida, junto de mim,
partilhando o meu saber, do meu poder e do meu estar, mandei chamar vocês aqui,
pois quero que saibam que é chegada a hora de vocês cumprirem o vosso dever de
futuros herdeiros deste reino.
- Vocês não sabem, mas desde o vosso nascimento que todo o
meu reino vos tem preparado para a missão que terão pela frente. Preciso que um
de vocês inicie uma viajem pelo meu reino, pelo mais profundo que o meu reino
tem, tal missão tem como objetivo, entender tudo o que é meu por direito, pois
eu sendo soberano de todo ele, até hoje, apenas sei, posso e estou nele. Para
viver o ato derradeiro da minha soberania, preciso de ver, sentir, cheirar,
rir, chorar, sonhar, implorar, desiludir-me, amar, sofrer e tudo o que me leve
a entender o que é meu e na verdade o que EU SOU. Como sabem, não posso,
abandonar MEU TRONO, por isso um de vocês terá a missão de sê-LO por mim nessa
importante viagem.
Contiunou.
- Ao outro caberá a missão de
acompanhar a viagem do seu irmão, mas através dos sem-tidos que eu coloco em
todo o meu reino, simplesmente isso, mas em contrapartida não terá a espada do
QUERER, pois só o que se aventurar na missão do EN-TENDER pelo mais profundo do
meu reino, necessitará da espada do QUERER.
Imediatamente
um de seus filhos, deu um passo em frente e disse:
- Meu querido PAI, podes contar
comigo para a missão do EN-TENDER. Diz-me o que devo fazer?
- Você viajará sozinho, será a
partir de hoje um simples viajante, sem qualquer privilégio real, para assim
vivenciar todo o meu reino de forma discreta, terá unicamente consigo a espada
do QUERER. Essa espada é muito poderosa, ela tudo pode, tudo faz, tudo alcança,
mas cuidado meu filho pois ela tanto faz no bem, como no mal. Tudo dependerá da
forma como você aprender a maneja-la. Mas você não pode treinar seu manejamento
aqui, pois tal espada não tem qualquer poder aqui, como sabe, neste palácio que
também é o seu, tal espada não se materializa. Ela ser-lhe-á entregue quando
você partir e já fora do castelo. Mas nunca de esqueça – ESTA É A SUA
VERDADERIA CASA, SEU LAR.
- Meu filho, antes de partir
deixe-me dar-lhe alguns conselhos, pois sua jornada será longa, dura, difícil e
muito perigosa. Tenha no entanto a certeza de um dia você voltará. Haverá uma
época em que você quase olvidará qual sua origem, qual sua verdadeira estirpe,
mas a mesma espada que o levará a esse estado de esquecimento, também é a chave
para o seu regresso, para o relembrar do caminho que o trará de novo ao seu
LAR.
- Meu reino, aquele que CR(E)EI,
é imenso, você irá ser colocado no mais profundo dele, onde o conhecimento
sobre MIM quase inexiste, onde reino EU, mas quase que mesmo que aparentemente,
a escuridão tomou conta desses locais de meu reino. Será a partir dai que você
terá que partir para essa sua missão de EN-TENDER por MIM. Só a espada do
QUERER pode auxiliar a todo o momento, em que partindo dai, você ascenda a
reinos, embora que ainda ofuscados pela penumbra, mas serão já partes do reino
onde o conhecimento e minhas LEIS já se irão fazendo notar. Estes locais você chamará
de palácios da impureza e são sete estes palácios. Esta será sua habitação
durante longo tempo, mas não se esqueça que não é seu LAR.
- Meu PAI e como suportarei
tamanhas agruras?, Acha que estarei preparado para tamanha tarefa?
- Meu amado filho, se esta não
fosse a sua verdadeira missão, se dela você não beneficiasse tanto quanto EU,
porque iria EU colocar você nela? Assuma sua posição, confie em MIM e saiba a
todo o momento que a missão tem como objetivo não só que você vivencie e me
traga o entendimento, como também é o derradeiro ato da sua TOMADA DE POSSE do
TRONO que é SEU REINO.
- Esta missão terminará como o seu regresso como REI e
verdadeiro senhor de todo o reino, onde não só herdará a Omnipresença, a
Omnisciência e Omnipotência, como trará consigo o ENTENDIMENTO do que é tudo
isso – esse será o ato da sua investidura. Quando regressar, regressará como
REI e não na condição em que parte agora de príncipe herdeiro.
- Mas veja meu filho, nem tudo será amargura, dor e
dificuldades. Preparei para você no meio no percurso um abrigo, nele você
poderá repousar da sua viagem pelos palácios da impureza, pois certamente o
esforço até ai será imenso. Nesse abrigo, você viverá por muito tempo, pois ele
tem muito para lhe mostrar. Nele você não viverá sozinho, embora tenha sua
eterna companheira, sua espada do QUEER, aqui você terá a companhia de dois
outros seres, duas irmãs gémeas, uma habita o primeiro piso desse abrigo, seu
nome é “preguiça” e a outra o segundo piso, seu nome “acídia”. Há um terceiro
piso de dá para um terra-ço, mas o acesso a ele, está sempre guardado pelos
implacáveis guardiãs e fieis servos das gémeas – o “medo”, a “duvida” e o
“adego”. Só você saberá como lidar com estes seres. Mas recorde-se, este não é
também o seu verdadeiro LAR, assim como a sua missão não é fazer desses seres
membros da sua côrte, o verdadeiro herdeiro é você, o seu trono está aqui
esperando por si e sua côrte você conhecerá aqui. NUNCA ESQUEÇA ISTO, pois para
lhe lembrar EU lhe entrego a centelha de MIM, será ela que se encarregará,
junto com o lado positivo do poder da espada, de lhe lembrar quem você “É” e
qual o seu LAR.
- Meu PAI e o que há nesse terra-ço?
- A seu tempo você descobrirá
meu filho, tudo a seu tempo. Agora vá, cumpra sua missão. Parta como filho herdeiro
e regresse como REI. Aquele que um dia herdará o reino da Omnipresença, da
Omnipotência e da Omnisciência, tem que regressar com o trofeu do pleno
entendimento.
Assim
o filho partiu. Como prometido pelo seu PAI, sem quase perceber como, deu com
ele chegando a um abrigo. Teve a sensação de saber que teria que ir para aquele
sitio, mas não sabia porquê. Sentia que era esse o seu destino, mas sem saber o
porquê, bateu à porta. Ao se abrir a porta, foi recebido por um bela mulher,
ficou estasiado com tanta beleza. Ela de imediato sorriu para ele, estendeu a
mão num ato e boas vindas e disse:
- Entra, por favor, estava à tua
espera. O meu nome é preguiça, serei a tua companhia durante esta tua longa
estadia. Entra e fique confortável, coloque aqui a sua espada, pois deve vir
cansado e ela parece-me bem pesada. Fique tranquilo que eu cuidarei bem dela.
Ao
dizer isto, a bela mulher fez-lhe um sorriso, mais irresistível que o primeiro
e o SER não teve como negar tal amabilidade. Entregou-lhe a sua espada.
Muito
tempo decorreu, até que um dia o SER percorrendo o piso do abrigo na procura
pela mulher sem que ela aparecesse, chamou-a, tantas vezes quantas possível,
por todo os locais do piso. Estranho, pois aquela que era a companheira de
todos os momentos, mas não estava ali. Percorreu o piso e viu-se defronte para
umas imensas escadas que pareciam dar para um piso superior. Pensou em subir,
mas…então, depois de tanto tempo, lembrou-se – “…a a minha espada, como me
poderia esquecer dela?!!!!” Nisto, sabendo onde a bela mulher a guardava,
dirigiu-se para lá. Retirou-a do seu lugar e rapidamente, lançou-se pelas
imensas escadas acima. Enquanto subia, teve a sensação de já ter feito aquilo
mais vezes – “…mas quantas??”, questionava-se ele.
Ao
chegar ao cimo dessas escadas deparou-se com um outro ser feminino, ainda mais
belo que a sua quase eterna companheira, aquela que acabará de abandonar. Ao
vê-la, parou perplexo diante dela, ela, ao olha-lo, sorriu e estendeu-lhe a
mão, num gesto de acolhimento. O ser não teve como resistir e deu-lhe a mão,
assim, juntos entraram para o segundo piso. Sem sequer falar, ela estendeu-lhe
a outra mão e ele rapidamente percebeu e sem resistir, entregou-lhe a sua
espada.
Muito
tempo se passou em que ora no piso superior, ora no piso inferior, o SER,
permanecia. Nos momentos que vivenciava o piso inferior, sentia a enorme
limitação que a densidade desse piso proporcionava, mas ao mesmo tempo, sentia
todos os prazeres e agruras que tal densidade era capaz de lhe fazer sentir. Já
no piso superior, o SER, sentia-se capaz de enormes feitos, aqui tudo o que
desejasse lhe era permitido, tudo o que a seu querer criasse, era realizado.
Mesmo que sem perceber que este seu querer não era o QUERER que o poder da sua
espada proporcionava, este, era o simples querer do ser que vive abrigado, pois
mesmo o piso superior não era mais que um local que foi construído para seu
abrigo, duma jornada que estava por concluir. Ao entender isto, o SER, correu
para sua espada e mesmo com a presença de ambas as irmãs gémeas, nada o deteve,
as suas belezas, nada puderam contra o QUERER da sua espada.
Lembrou-se
que este abrigo que tinha sido o seu aparente lar até aqui, teria que ter um
forma de sair dele. Quase que instantaneamente, lembrou que deveria subir.
“Sim, devo procurar ascender, tenho que procurar subir, ai estará a minha porta
de partida deste presidio que embora tenha sido meu abrigo, pois me permitiu
aprender e descansar, após muito tempo se tornou minha prisão”.
Recorrendo
à sua memoria do que era - o piso superior desse local, rapidamente se lembrou
que junto ao lanço onde se situavam as escadas que permitiam a sua passagem
entre pisos, havia uma escada que se prolongava para alem do piso superior.
Nunca tinha sequer procurado saber onde levavam, mas agora era o momento de o
fazer. Dirigindo-se a elas, iniciou de imediato a sua subida até que no final
destas, se deparou com um outro piso. Este estava descoberto, era um terra-ço
que dava para o infinito. “Mas como era possível?” – Questionou-se. “Como era
possível que existisse algo para alem de tudo o que eu conheço?”
Nesse
terra-ço o SER pôde ver que cada um dos lados mostra-lhe realidades diferentes.
Na sua frente estava aquilo que ele viu ao chegar – um enorme e maravilhoso
infinito, a sua descrição era impossível, pois o que se sentia ao vê-lo era na
realidade inefável.
Do
seu lado esquerdo, situava-se a sua conhecida preguiça e por traz de si, tudo o
que estando com ela o SER tinha vivenciado, por momentos sentiu saudades de
tudo isso.
Do
seu lado direito, ai estava a sua outra companheira acídia e por traz de si,
estendia-se todo o maravilho mundo que ele tinha criado e onde tinha sido como
um rei.
Já o
lado que se encontrava de traz de si, era penumbra, escuridão quase total. Ai o
SER lembrou-se o que isso representava e entendeu.
Sorriu
para elas, num ato de ternura, por tudo o que elas lhe tinham ensinado, pois
apensar de tudo, ele agora entendia o propósito de tudo aquilo, ele sabia que o
papel delas tinha sido importante. Agora ele já entendia, mas por entender, por
isso mesmo, sabia que aqueles não eram, o seu lugar, eram sim parte dos seu
reino, mas precisava regressar, agora sabia como.
Dirigiu-se
para o lado onde a paisagem lhe mostrava o maravilhoso infinito, mas
estranhamente, este era o único lado que apresentava como obstáculo um enorme
abismo, pois estando no piso mais superior do abrigo, a altura era
considerável. Aproximou-se do abismo e mesmo sabendo que este era o seu
caminho, teve medo, muito medo. - “Como poderei eu enfrentar este abismo, sendo
um simples SER?” Enormes sentimentos de medo e duvida apoderaram-se dele.
Olhou
de novo para o lado esquerdo e para o seu oposto, o lado direito. Elas
continuavam ali, sorrindo para ele, esperando por ele. Olhando para elas os
sentimentos de medo dissipavam-se, pois ali ele sabia o com o que poderia
contar, ali já não havia duvidas quanto ao que poderia encontrar. Então
percebeu que parte da sua insegurança se prendia com a saudade e a falsa
segurança que o conhecido lhe oferecia. – “Mas eu sempre tive que aprender e
foi o desconhecido que me trouxe até aqui.” Com este pensamento, desapegou-se
dos sentimentos de saudade que o conhecimento de passado lhe transmitiam como
segurança.
Ai
percebeu que a solução estava na sua espada, na sua eterna e verdadeira
companheira. Uma centelha de QUERER emergiu dentro do seu SER e colocou a
espada desembainhada na sua mão direita, enquanto isso deu um passo em direção
ao enorme precipício, mas desta vez, olhando para ele, percebeu que dentro de
SI, a duvida o medo e o apego tinham desaparecido. Tinha total controlo sobre a
ilusão que o medo, duvida e apego, criavam entre SI.
Tudo
aquilo que até ali o SER tinha como real, logo após este primeiro passo toda
essa enorme ilusão, toda esse cenário se desvaneceu e como que por ato de
magia, o SER viu-se de novo junto de seu PAI. Parecia um sonho que durou uns
segundos, mas breves segundos onde tudo tinha tido cabimento. Seu PAI sorrindo,
abraçou-o.
Exausto,
finalmente o SER, pode sentir-se frágil, aos braços de seu progenitor. Ao ser
abraçado, o SER sentiu a maior e mais fabulosa injeção de AMOR, com que se num
breve instante, recebesse todo o AMOR que existiu, existe e existirá, ai
entendeu o verdadeiro AMOR, o ETERNO, aquele que esteve, está e estará, sempre.
Ai
sentiu-se compensado, percebeu como era amado. Recuperado, joelhou-se aos pés
de seu PAI e num gesto de enorme respeito e AMOR, entregou-se a sua espada.
Aquele que um dia tinha sido a espada que não podia existir dentro do seu
palácio, agora ele tinha-a transmutado e tal poder que dela imanava como QUERER,
agora era puro EN-TENDER.
Seu
PAI num gesto de terno reconhecimento, recebendo a espada do EN-TENDER,
indicou-lhe o trono que estava vazio. O SER rapidamente entendeu e a ele se
dirigiu, tomando-o.
- Meu querido filho, seu desígnio finalmente
se cumpriu. A SI lhe entrego os destinos deste reino que CR(E)EI para que um
dia você pudesse governa-lo. Tome seu trono, governe em meu nome. EU devo
partir, pois como SABE, outros reinos precisam de MIM, a outros irmãos seus,
devo encarregar de tão difícil missão, essa que você terminou.
- Meu PAI, antes de partir, gostaria de
perguntar se algum dia conhecerei esses meus irmãos?
- Essa pergunta, deverá ser você
a responder meu filho, unicamente você, pois agora você tal como EU, não só
tudo sabe, tudo pode, tudo está, como também tudo en-tende, se algum deles se
encontrar com você frente a frente, não se esqueça que um dia longínquo seu
nome foi HUMANIDADE.