domingo, 4 de novembro de 2012

A grande ilusão

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Toda a minha vida sofri e vi sofrer os que me rodeiam. Nunca até esta fase da minha existência, tinha questionado o verdadeiro motivo deste sofrimento. Como qualquer outro ser humano, sofria e desse sofrimento apenas tentava ver-me livre. No momento era o que importava e depois, aparentemente, já não fazia sentido pensar em algo que já não nos afeta mais. Nunca em caso algum, tentava perceber os motivos que levavam a tais situações.
Se olharmos bem para a humanidade, todos fazemos exatamente o mesmo, apenas tentamos resolver o mal-estar emocional em concreto, sem pensarmos nos verdadeiros motivos que o originaram, aquilo que nos levou ao estado de angustia, melancolia, desilusão e até mesmo à depressão.
Não é comum fazer este tipo de introspeção, quando as próprias disciplinas da ciência médica que se destinam a auxiliar o ser humano nas questões que se relacionam com os temas da mente, por sua vez dos estados emocionais, são elas próprias que desvalorizam a questão da procura da solução, pela origem, preocupando-se unicamente em resolver o efeito mais imediato.
Na verdade tanto na psiquiatria como na psicologia, a abordagem terapêutica que é feita, é na essência, não pela anulação do estado de sofrimento na origem, mas pela aplicação de uma “capa” sobre essa suposta origem, levando o paciente, ilusoriamente a deixar de se sentir afetado momentaneamente.
Vou deixar um exemplo. Imagine-se uma situação das mais comuns na atualidade – a incerteza quanto ao futuro, perder o emprego ou não conseguir um novo. Alguém que entrou num estado de ansiedade, mais ou menos profundo, devido aos problemas relacionados com a espectativa que se tem face a um destes acontecimentos, aquilo que as atuais disciplinas da ciência médica fazem, é basicamente, com o auxilio ou não de medicação, fortalecer o ego da pessoa.
Ajudando-a a elevar a sua autoestima, ela fica momentaneamente convencida do seu maior valor enquanto profissional e isso permitirá encarar que a origem do que seria o seu problema face à incerteza do emprego, se dissolva, pois conclui ser melhor do que julgava.
Na verdade, nesta abordagem, mesmo quando se atinge algum efeito desejado sobre o paciente, ele é momentâneo, pois caso no futuro a expectativa que veio reforçar a autoestima não se confirme, o que esta intervenção gerou certamente, foi um maior fortalecimento dos mecanismos que originaram o problema. Então a abordagem feita pelas ciências médicas da mente, são paradoxalmente, em muitos casos, a causa do agravar da próxima crise emocional que leva ao dito sofrimento.
Todos nós já experimentamos situações de reincidência de estados emocionais ligados ao sofrimento, mas nunca os relacionamos, pois os motivos que levam novamente ao surgimento dos sintomas de sofrimento, são aparentemente distintos dos anteriores, julgamos nós. Na verdade esta ideia é errada. É de uma ilusão que se trata, quando pensamos não haver relação entre eles, isso é fruto do fato de não conhecermos, ou melhor dizendo, não estar conscientes, da verdadeira origem dos mecanismos que nos levam ao sofrimento.
Então o que origina o sofrimento? Bem, para dar essa resposta teremos que fazer várias abordagens e espero ir fazendo essas abordagens ao longo de várias reflexões, pois a resposta abrange um imensidão de temas. Para iniciar devemos distinguir entre sofrimento de caracter físico e mental ou emocional, sendo a abordagem aqui feita, essencialmente do segundo tipo.
Embora existam várias explicações quanto à sua origem, pode-se, com grande grau de certeza, afirmar que todas elas partem de um pressuposto único – o malograr da espectativa que geramos face a qualquer coisa ou evento idealizado. Esta sim é a matriz de toda a origem do sofrimento emocional, pois é a partir dela que todos os vários mecanismos que levam ao estado de sofrimento se desdobram.  
Para provar que esta é a causa verdadeira, é necessário que aplicada a sua matriz a todos os casos, se consiga obter uma completa correspondência entre os efeitos (sofrimentos pontuais) e a referida causa (expectativa malograda). Normalmente a grande dificuldade está em identificar a verdadeira causa depois de desdobrada, isto partindo do pressuposto que existe um padrão, como que uma única origem para o sofrimento.
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Extraído do Capitulo II “A grande ilusão.”, do livro – “A origem dos mistérios, verdades e mentiras.” Autor “AC”

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