terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Qual o sentido da vida?




Todos nós, já fizemos a pergunta. Senão desta, de outras formas, colocamos tal questão a nós próprios. Nem sempre através de questionamentos diretos, muitas vezes essas perguntas são deixadas através dos mecanismos das sensações, sentido na angústia pela incompreensão de certos acontecimentos, na desilusão pelas expetativas não cumpridas, nas dúvidas originadas pelos medos sentidos na incapacidade de perceber o emaranhado dos processos que constituem aquilo que chamamos de vida.

Na verdade, é do resultado destes fenómenos, com origem no nosso estado de ignorância que nasce a necessidade de fazer a pergunta – “Afinal, qual o sentido da vida?”. Desta pergunta nunca obteremos uma resposta satisfatória se não percebermos primeiro o motivo mais profundo, pelo qual o ser humano faz tal pergunta e dai talvez perceber que tal pergunta deve originar, ela própria, não uma resposta concreta, mas sim servir para gerar o próprio modus vivendi de cada ser humano, em cada momento, de cada etapa da sua vida.

Só assim da pergunta, se tornará um verdadeiro instrumento ao serviço do nosso crescimento pessoal, humano e espiritual. Tal como uma criança, nós adultos, devemos abandonar o medo de nos esvaziarmos das certezas que adquirimos e que teimamos em manter como verdades absolutas. Devemos compreender o truque contido na mestria de aprender permanentemente, tal como fazem das crianças, o melhor mestre da arte de aprender, ao constantemente colocarem em causa tudo, através da constante insatisfação contida na expressão dos “porquês”, e dessa atitude, revelar a coragem necessária do desapego ao conhecimento adquirido, mostrando-nos assim, preparados para perceber novos níveis duma mesma realidade, no processo que chamamos - viver.  

Então a incapacidade de obter uma resposta satisfatória, quando a humanidade faz a pergunta – “Qual o sentido da vida?”, não está na pergunta em si, mas sim, no que se espera da resposta. Na verdade o ser humano, quando faz a pergunta, procura que tudo lhe seja relevado e que dessa resposta, lhe seja possível satisfazer toda a sua ignorância, sem que exista um esforço constante para perceber que há várias respostas e várias fases da pergunta, nas várias fases da vida.

Sim, porque ao fazer uma pergunta que supostamente contem de todas as respostas, o que estamos a fazer, é criar a expectativa de ter todas as respostas para a existência, sem que para isso, nos tenhamos esforçado, por ir adquirindo os conhecimentos intermédios que nos podem levar a perceber passo-a-passo todo o processo que é aquilo que chamamos - vida. A isto poderíamos chamar o processo de crescimento espiritual e intelectual humano.

Esperar a resposta conciliadora de toda a nossa ignorância, sem que nada tenha sido feito para desenvolver as competências que levam ao entendimento passo-a-passo, é o maior ato de acídia em que o ser humano se vê mergulhado. Tão ridículo que nem uma criança pensaria em comete-lo, no seu processo de desenvolvimento, tal coisa, equivaleria à imagem de uma criança de 5 anos, perguntar o mesmo. No entanto, sabemos que as crianças na idade dos “porquês”, de forma inata, reduzem a grande pergunta à simplificação, usando exatamente o método do desdobramento de algo mais complexo, pelo método de etapas.

Sempre que a um problema não percebemos uma solução, sempre que a uma pergunta não temos condição para a resposta, devemos reduzi-la, ou seja, dividi-la em vários conjuntos, de forma a assim poder partir para uma solução passo-a-passo, por etapas. Assim se desenvolve o processo de aprendizagem na idade dos porquês. Por isso deveremos aprender com as crianças.  
Isso é inato no ser humano, desde o seu nascimento, e permite nos primeiros anos de vida, enormes avanços de desenvolvimento, então, não se entende porque deixamos de usar algo que nos traz tantos benefícios e que se mostra o método de aprendizagem mais eficaz, cheio de resultados efetivos?

Se olharmos para tal método, usado por todos enquanto crianças, percebemos que o que está errado, não é a pergunta que fazemos enquanto humanidade, mas a expectativa do que pretendemos obter com ela. Se reaprendermos o sábio sistema dos porquês utilizado pelas crianças, será possível iniciar o processo que nos levará a que cada dia, tal pergunta permita uma plenitude de satisfação na resposta obtida, pois saberemos que são etapas. Então o importante é perceber que temos que fazer muitas vezes a mesma pergunta, alias, devemos fazer todos os dias a mesma pergunta e perante tal pergunta, apenas esperar que ela sirva o impulso que nos leva a compreender mais um pouco todo o processo que é a vida.

Tal qual uma criança que faz as perguntas, depois experimenta sensações, cheiros, sons, emoções, percebendo que é um eterno aprendiz vivendo um processo de aprendizagem, um cientista que coloca a pergunta, e de uma forma ou de outra, procura experimentar as possibilidades face à pergunta, obtendo assim na resposta um “certo ou errado” e daí passar à constatação seguinte. No laboratório experimental que é a vida, a pergunta derradeira - “Qual o sentido da própria vida?”, na verdade é apenas e só o mecanismo catalisador do próprio sentido oculto da vida – EXPERIMENTAR, para através dela, ganhar mais consciência. Este é o verdadeiro sentido da evolução espiritual, ou se pretendermos, o sentido da vida.   
Cada vez que obtemos a nossa resposta à pergunta, é possível perceber, em cada momento, qual o nosso nível de evolução espiritual, ou se pretendermos, qual a nossa fase, no entendimento da resposta à tal pergunta – “Qual o sentido da vida?”.

Para que tal pergunta seja um instrumento de crescimento espiritual e humano, ela deve ser despida da capa que transporta. Devemos fazer uma pergunta, direta a nós próprios, onde estará implícita a resposta coletiva à pergunta inicial, assim no monólogo existencial, a pergunta correta, seria – “?Quando a minha vida terminar, o que deverei ter feito, para que ela tenha feito sentido?”.

Desta forma, ela, torna-se o verdadeiro exercício de aprendizagem no dia-a-dia. À medida que o ser humano se aperfeiçoa, à medida que amadurece espiritual e humanamente, a resposta à pergunta, modifica-se. Essa modificação, essa resposta de cada momento, representar a imagem do que cada um de nós é de fato e o seu verdadeiro estado de consciência.

A resposta universal à pergunta – “Qual o sentido da vida?”, é na verdade possível. Existe de fato e está contida na expressão que melhor define a existência de um sentido para a vida, a cada momento em que fazemos a pergunta.

AC

Sem comentários:

Enviar um comentário