Tudo terminava como tinha começado.
Motivado pelo querer saber, acabei por entender que aquilo que todos procuramos
e pensamos estar algures nos confins do mundo, afinal, sempre esteve bem perto
de nós, tão perto que mais, seria impossível…
O caminho tinha sido longo, as
cicatrizes que transportava eram profundas, bem marcadas, mas estavam
totalmente curadas. Ninguém faz uma viagem destas sem se magoar, sem ter que
recuperar. Os erros fazem parte da jornada, são eles que nos direcionam no
caminho certo e para isso temos que arriscar. Sem arriscar não há erros, mas
sem arriscar não há caminho, não há nada, apenas o medo, a dúvida e o apego à nossa
zona de conforto, ao conhecido.
Tinha partido para esta viagem,
frágil, acompanhado apenas pelos fantasmas de toda uma vida - o medo, a dúvida
e o apego ao meu mundo. Nada mais levava comigo. Movido apenas por uma breve e
ténue VOZ que por vezes me chamava para a necessidade de lutar contra estes
fantasmas.
Mas que voz era esta e porque me
incomodava constantemente?! Porque lhe dava importância?! Porque não seguia a
minha vida, como todos os outros?!
Vivia uma vida normal, como
qualquer outro. Não poderia afirmar que era diferente de tantos outros. Mas não
é isso a felicidade alcançável? Que mais podemos querer da vida? Podemos pedir
mais?
Essa voz, quando a conseguia ouvir,
dizia-me que sim. Era possível ter muito mais, era possível atingir a
plenitude, ter tudo, ser absoluta e permanentemente feliz. Se isso fosse
possível então eu queria atingi-lo. Mas algo me dizia que isso poderia ser algo
irrealizável ou pior ainda, mesmo podendo ser alcançável, para tal, seriam
pedidos grandes sacrifícios.
Estaria eu preparado para esses
sacrifícios, estaria eu disponível para correr o risco de me lançar em algo que
pode nem ser realizável?! Tantos medos, tantas dúvidas e apenas uma certeza – do
apego ao conforto da realidade que me era familiar.
Tinha que ser diferente dos
outros?! Se quase todos se mantinham no conforto aparente do seu mundo
conhecido. Era assim que vivia a maioria da Humanidade, embora houvesse uma
pequeníssima minoria que tivesse tido a coragem de correr o risco, os
resultados alcançados por essa pequena minoria, não eram minimamente compensadores.
Bastava olhar para aqueles que tinham feito essa opção.
Na sua maioria vivem uma vida de
alienados, na verdade, é como se não vivessem. Certamente que o objetivo da
existência, passa por vivermos e não por nos isolarmos de tudo e de todos. Mesmo
que isso seja feito na tentativa de nos libertarmos dos tais fantasmas que
todos transportamos, como uma herança que recebemos com o nascimento e que se
vai fortalecendo com o decurso da nossa vida.
Mesmo não sabendo se aquela voz que me
instigava era confiável, mesmo sabendo do insucesso dos que se atreveram a correr
o risco, mesmo assim, não podia condenar-me à certeza representada no aparente
conforto com que até ali a minha vida tinha sido vivida. Tinha que tentar…
Iniciei o meu caminho, convicto que
sabia o que procurar, apenas precisava descobrir onde procurar.
Não foi diferente, este meu início,
este meu erro primordial, de tantos outros que se atrevem a tentar fazer esse
caminho. Todos partem para essa busca, convencidos que sabem o que procurar. Na
realidade, não é errada essa ideia, pois à luz da consciência que temos na
época, somos movidos pelo que acreditamos ser verdade. Mesmo que mais tarde se
compreenda que aquilo que pensávamos ser a verdade, era afinal uma imagem
destorcida e condicionada, pela forma limitada como víamos o mundo nessa época,
mesmo assim, é essa realidade distorcida que nos motiva à procura que termina
por nos permitir ter uma consciência mais clara, levando-nos a perceber o
equivoco, mas também levando-nos para outro nível de perceção do mundo e de
nós.
Isto é semelhante à imagem que a alquimia
espiritual plasma no significado da pedra filosofal. Todo o aprendiz alquímico,
aventura-se no estudo da alquimia com um objetivo inicial que nunca é aquele
que termina por resultar no que é expresso quando o aprendiz alcança todas as
etapas da alquimia. Na verdade, o aprendiz procura a alquimia, com o objetivo
de conseguir produzir aquilo que é, no seu lerdo entender, a pedra
filosofal.
Na sua maioria, dos que se iniciam esta
busca, poucos são os que persistem e chegam ao fim, pois em pouco tempo, quase
todos, percebem que afinal o que eles procuravam não é de alcance fácil, precisando
de dedicação sincera e entrega plena. Mas mesmo aqueles que têm condições para
se manter no processo de aprendizagem, necessitam de muito tempo e só após todo
esse tempo, chegam a perceber que para além do empenho, entrega e dedicação
sincera, o alcance da tal desejada pedra filosofal, reserva-lhe algo
inimaginável. Na realidade, aquilo que a alquimia faz de mais relevante, não é
dar a fonte da vida eterna ou a capacidade de transformar vil, em nobre metal,
no sentido literal do termo, mas sim no sentido mais elevado do termo.
Para todo o que consegue persistir
na busca alquímica, aquele que era o objetivo inicial, transforma-se e
transforma o aprendiz alquímico de tal maneira que ele percebe que o verdadeiro
valor está naquilo em que ele se transformou e não no que ele aprendeu a
transformar. Assim, mesmo sabendo como fazer, deixa de ter valor para o alquimista,
o metal precioso e a capacidade de prolongar a vida física, pois ele sabe que
existe a eternidade, sabe como chegar a ela e que nela, existem padrões de
valores que transcendem, aqueles que ele aprendeu como transformar.
Assim como a alquimia, também
outros caminhos, nos podem levar à transmutação da condição de ignorância à
condição de Sabedoria. A transformação do ser em SER.
Extrato
do livro_ A arte da libertação – Hermetismo para
todos.
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