Quanto mais
observava a humanidade, mais angustiado se sentia.
A humanidade
procura sempre provas fáceis para tudo, como diz o ditado popular – “Ver para crer”.
Mas a vida é um jogo de paradoxos, mesmo sem percebermos, vivemos rodeados por
eles e em função deles, sem nunca os compreender.
Certo dia,
logo pela manhã, ao acordar e dirigindo-se à cozinha, foi surpreendido com o
fato, de um dos dois peixinhos de aquário, colocado no parapeito da janela estar
morto, do lado de fora do aquário. Percebia-se que tinha saltado de dentro do aquário,
provavelmente horas antes, pois o local onde estava e o próprio, estavam já
completamente secos. Estando em pleno inverno, devido às baixas temperaturas,
seriam necessárias horas para que a água resultante desse salto, se tivesse
evaporado. Por isso, todos, ao chegar à cozinha, com a intenção de fazer a sua
primeira refeição, vendo tal cenário, concluíam que tal evento teria ocorrido,
algumas horas antes.
Tinha sido
deixado ai, para que o membro mais pequeno da família, motivo pelo qual o
aquário e os dois peixes ali se encontravam, visse e percebesse que tinha havido
um acidente. O peixinho estava há poucos dias lá em casa, provavelmente sem
querer, saltou do aquário e desse salto, resultou a sua morte. Mas seria
importante que fosse o menino a constatar, pois certamente assim ele entenderia
melhor o seu desaparecimento.
Quando todos
tinham abandonado a cozinha e se preparavam para explicar o acontecido ao
menino que se encontrava no quarto. Tendo ficando a sós na cozinha com o
peixinho, o pai do menino, olhou para ele, ali sem vida, completamente seco, prostrado,
ao lado do seu breve lar e sem pensar, deu-lhe um suave toque com os dedos, deixando-o
ficar entre os seus dedos polegar e indicador. Com o toque, de imediato, como
que se esse toque levasse o sopro de vida, o peixinho mexeu-se. Sem qualquer
espanto, ele pegou-lhe com esses mesmos dedos e colocou-o dentro da água, no
aquário. Logo percebeu que o peixinho tinha voltado à vida.
Quando todos
os restantes entraram na cozinha para mostrar ao menino o seu peixinho morto,
já este se encontrava, de novo vivo e em movimento, dentro do aquário.
Pensativo, o pai do menino, quando questionado por todos, sobre o que tinha ocorrido,
apenas afirmou – “Talvez se safe, desta vez.”
O peixinho
vermelho, não se encontrava com a vitalidade do seu companheiro de aquário, nem
com a vitalidade que lhe era comum, mas dava para perceber que tinha voltado à
vida e provavelmente viveria. Mas como?! Questionavam-se em casa, todos os
adultos. Não apenas o pai sabia e por isso nada questionava, também o seu
pequeno filhote, sem fazer qualquer comentário, demonstrava que a sabedoria
está para além da curiosidade do ego que quer saber só para saciar-se, pela
simples satisfação desse ego. Ambos sabiam que era tal natural como o contrário,
pois se viver e morrer é natural, também natural pode ser morrer e viver?! Por
que não?! Só aqueles que percebem e os que querem perceber pelo ato genuíno de
perceber, sem o interesse do ego, não questionam, apenas sentem e desse
sentimento, resulta o pleno entendimento. Por isso o menino não levantou
qualquer questão, mas os adultos sim, esses reagiram, como qualquer adulto, típico
da ação do ser adulto, já completamente envolto no seu ego. Uns pela expressão
contida no sarcasmo – “Foi milagre.”, outros pela negação do entendimento
imposta pelo fenómeno da racionalidade – “O peixinho ainda estava vivo, só
pode!”.
Os únicos que
não questionavam, era o menino e o seu pai. O primeiro, porque sentia, por isso
percebia com o coração e assim sendo, nada era estranho para ele. O segundo,
não só sabia porque sentia com o coração, como sabia porque tinha plena consciência
do fenómeno.
Desse saber,
desse fenómeno, a única importância estava em perceber que nada do que tinha
ocorrido, transgredia duas das condições que sob qualquer pretexto ou motivo,
podem ser transgredidas – As LEIS de DEUS e as leis da natureza. A primeira
representada no livre-arbítrio e a segunda nas condições da deterioração fisiológica
dos tecidos que a pós-morte provoca. Desde que nenhuma desta tivesse sido
quebrada, tudo estava bem, tudo era normal. Não importava se o peixinho tinha
estado fisiologicamente morto, apenas importava saber que o seu livre-arbítrio
não tinha sido contrariado e que a lei da natureza não tinha ainda exercido os
efeitos que tornariam impraticável o seu retorno à vida, sem contrariar a lei
da natureza.
Já para o
ser humano comum, envolto na egocentricidade e na ignorância a que ele remete,
o que importa é perceber se há milagre. Todos sonham em ter a prova
contundente, vista com os próprios olhos, se existem ou não existem milagres,
mas quando colocado à sua frente tal ocorrência, é tal a sua cegueira que não
só não vêm o que sempre procuraram ver, como não vêm o que de verdade teriam
que ver – perceber a verdade que está pro traz de tal acontecimento e daí tirar
os devido ensinamentos.
Por isso
todo o Iniciado, consciente do atual estado em que a humanidade se encontra,
pensa e sente – “Quanto mais observo a humanidade, mais angustiado me sinto.”
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