“Há três tipos de iniciação: exotérica, esotérica e divina.”
Bandarra
Aquilo a que se chama «iniciação» é de três espécies: Há,
primeiro, e no nível ínfimo, a iniciação exotérica, análoga à iniciação
maçónica, e de que esta é o tipo mais baixo: é a iniciação dada a quem
propriamente se não encaminhou para ela, nem para ela se preparou (porque
sugestão de outrem, o impulso externo, e a simples curiosidade não são
preparações), e que serve para pôr o indivíduo em condições de poder dar se o
caminho esotérico, de poder buscar, pelo contacto, embora esotérico, com
símbolos e emblemas, o verdadeiro caminho. O mais exterior e nulo dos sistemas
iniciáticos — como o é hoje a maçonaria — serve este fim, logo que tenha
conservado os símbolos pelos quais em nós se infiltra o primeiro conhecimento
do oculto. O único fim com que os Rosa-Cruz instituíram a maçonaria exotérica é
o de pôr muita gente em contacto com, por assim dizer, o aspecto externo da
verdade oculta, podendo assim aqueles, que se sintam aptos, ascender a ela
lentamente.
Há, depois, a iniciação esotérica. Difere da primeira em que tem
que ser buscada pelo discípulo, e por ele desejada e preparada em si mesmo.
«Quando o discípulo está pronto», diz o velho lema dos ocultistas, «o mestre
está pronto também.»
Há, por fim, a iniciação divina. Esta, não a dão nem exotéricos ou
esotéricos menores, como a exotérica, nem até Mestres ou Esotéricos Maiores,
como a esotérica; vem directamente, e por cima destes todos, das mesmas mãos,
do que chamamos Deus. O tipo supremo desta iniciação é o de Jesus, a quem Deus,
de nascença, converteu em sua mesma Essência, tornando-o Cristo.
Iniciado exotérico é, por exemplo, qualquer mação, ou qualquer
discípulo menor de uma sociedade teosófica ou antroposófica. Iniciado esotérico
é ,por exemplo, um Rosa-Cruz, um Francis Bacon, seja. Iniciado Divino é, por
exemplo, um Shakespeare. A este tipo de iniciação vulgarmente se chama génio.
Quando
Shakespeare disse, «uns nascem grandes, outros chegam à grandeza, a outros é a
grandeza imposta» deu, talvez sem querer e julgando ser simplesmente irónico, a
chave das três iniciações, na ordem descendente. Outro sentido não tem a mesma
frase do Cristo que diz o mesmo pela «a uns fazem eunucos desde o ventre
materno», em que, por uma expressão simbólica que a intuição facilmente
compreende, se exprime pelo eunuquismo o afastamento dos outros que caracteriza
a iniciação.
s.d.
A Procura da Verdade Oculta - Textos filosóficos e esotéricos . Fernando Pessoa. (Prefácio, organização e notas de António
Quadros.) Mem Martins: Publ. Europa-América, 1989 (2ª ed.).
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